Com derrota na Câmara, oposição questiona votação que barrou denúncia contra Temer

Pelo menos cinco deputados recorreram ao STF para judicializar a sessão, afirmando que houve espaço para defesa, mas não para acusação

 

Derrotada no plenário da Câmara, a oposição ao governo de Michel Temer (PMDB) promete não dar trégua ao presidente — e o primeiro passo para isso já foi dado. Antes mesmo do resultado final, cinco deputados recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para judicializar a votação que acabou barrando a denúncia contra o mandatário.

A iniciativa partiu de Glauber Braga (PSOL-RJ), Alessandro Molon (Rede-RJ), Carlos Zarattini (PT-SP), Alice Portugal (PC do B-BA) e Júlio Delgado (PSB-MG). Eles decidiram questionar o rito da votação, que deu espaço para a defesa de Temer, mas não previu a participação do autor da acusação, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Ainda nesta quarta-feira (2), o mandado de segurança foi distribuído para a relatoria da ministra Rosa Weber. Enquanto o resultado não sai, a oposição estuda a possibilidade de entrar com novas ações nos próximos dias.

— No nosso entendimento, Temer agiu para obstruir a Justiça ao comprar votos na Câmara, e isso pode ser alvo de outro questionamento jurídico. A hipótese não está descartada — diz a deputada Maria do Rosário (PT-RS).

Na avaliação da petista, a oposição “perdeu um round, mas não a guerra”. Elvino Bohn Gass (PT-RS) concorda e destaca a necessidade de manter a unidade alcançada no plenário no campo da esquerda. Pela primeira vez em muito tempo, os partidos contrários a Temer deixaram divergências de lado e conseguiram postergar a votação para o início da noite, o que foi considerado uma vitória.

— O fato é que o governo saiu fragilizado política e eticamente. Continua com a espada sobre a cabeça. Nosso trabalho, agora, é explorar isso para dificultar o avanço das reformas, em especial a da Previdência — resume o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS).

— Não podemos esquecer que novas denúncias contra Temer vão surgir. Isso não terminou aqui. Da nossa parte, vamos manter a coerência — complementa João Derly (Rede-RS).

Analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Alisson de Sá Alves prevê “muitas dificuldades” no caminho do presidente. A vitória desta quarta, segundo ele, não garante estabilidade.

— O governo não pense que vai ser fácil. Não dá para desconsiderar o fato de que a atual oposição foi oposição a todos os governos antes das eras Lula e Dilma. Portanto, sabe fazer oposição, conhece todos os mecanismos regimentais para usar a seu favor. Mesmo sendo minoria, tem poder de fogo — conclui Alves.

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