Quantos corpos serão necessários para sensibilizar o Brasil?

É hora de um diálogo nacional antifascista, por eleições livres, garantias constitucionais e cumprimento das atribuições pelas instituições

 

O assassinato da vereadora Marielle Franco e os ataques violentos à Caravana Lula no Sul, fatos com clara motivação política, colocam o Brasil em um novo cenário. Revelam a capacidade de ação terrorista de grupos mobilizados pelo fundamentalismo político da direita e da extrema-direita.
 

O contexto político de ódio construído para promover figuras truculentas à condição de líderes de massa é o amálgama da violência política que visa aniquilar inclusive fisicamente os adversários. É isso o que ocorre contra a Caravana de Lula. Não se trata de um movimento “espontâneo” de oposição política.  São ações com comando militar, planejamento, financiamento e estrutura, capazes de criar um ambiente de terror no território nacional.
 
No momento em que o País tem altos índices de violência, em que a morte encontra-se banalizada, há uma campanha permanente e corrosiva contra os direitos humanos. Diante deste descalabro, não surpreende o surgimento de grupos paramilitares de extrema-direita, tal como aconteceu na Alemanha durante a ascensão do nazismo ou na Itália durante o fascismo, levando a uma explosão de crimes sem precedentes. A expressão paramilitar serve de alerta aos três Poderes da República sobre a gravidade do momento em que vivemos e sobre a violação, mais uma vez, da Constituição Federal, que veda a associação de pessoas para fins paramilitares em seu artigo 5º.
 
Chama a atenção que mesmo antigos democratas centristas estejam calados. Alckmin perdeu a oportunidade de um obsequioso silêncio, e desmascarou-se com pequenez política, ao afirmar palavras contra Lula, que teve seu veículo alvejado por balas. No Rio Grande do Sul, a senadora Ana Amélia discursou em convenção do seu partido, cumprimentando os que seguraram alto os “relhos”, desconsiderando que quatro mulheres e vários homens desarmados foram atingidos com a arma suja dos feitores que escravizavam seres humanos.
 
Se até agora estivemos em batalhas institucionais e na comunicação, o conteúdo dos embates mudou. Entrou em cena no Brasil uma velha conhecida da sociedade: a violência política. Os ataques armados à Caravana de Lula pelo Sul são a revelação de que o País está à beira de um precipício.
 
É hora de construirmos um diálogo nacional antifascista, por eleições livres, garantias constitucionais e cumprimento das atribuições pelas instituições que devem assegurar liberdades políticas e direitos da população e da Nação, para que encontremos de imediato o caminho da democracia.
 
O fato é que nada disso estaria acontecendo sem que o golpismo tivesse sido alimentado com homenagens aos torturadores da ditadura e aos que chacinam populações pobres e negras nos dias atuais.
 
Por isso, os governos se omitem diante do aconteceu no Rio de Janeiro e do que acontece contra Lula. Os atuais ocupantes dos cargos governamentais não entenderam, que nesse diapasão, tornam o País incapaz de fazer frente a esses grupos criminosos. Se nada for feito para proteger a vida de Lula, por diferença política com o que ele representa, estão cavando sua própria destruição como de líderes inertes e sem moral.
 
Acordem, poderes e instituições!

*Maria do Rosário é deputada federal pelo PT do Rio Grande do Sul
Publicado em Carta Capital

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