Nenhum direito a menos*
A Reforma da Previdência é um duro golpe contra o povo, mas sobretudo contra as mulheres. Estas, que têm as vidas perpassadas pela desigualdade, violência e o assédio, poderão ser arremessadas na pobreza quando perderem sua capacidade produtiva. Ao aumentar a idade mínima para a aposentadoria das mulheres, a proposta desconsidera a sobrecarga com o trabalho reprodutivo, que recai quase que exclusivamente sobre elas, as mais atingidas pelo desemprego e pela informalidade, fatores que engendram maior dificuldade na manutenção regular do vínculo previdenciário.
Os aliados de Temer que lideram a reforma ignoram as diferenciações de salários entre homens e mulheres para as mesmas funções e fingem desconhecer a particular inserção das mulheres no mercado de trabalho com jornadas e rendimentos menores. Esta sobrecarga influencia também as possibilidades de ascensão no emprego.
A reforma ainda propõe que o valor da aposentadoria considere todos os salários, inclusive os mais baixos, reduzindo a média e portanto o valor do benefício. Para muitas mulheres que adentraram o mercado de trabalho em condições precárias, ainda adolescentes ou muito jovens, e, portanto, com salários baixos, o resultado será uma remuneração menor também na aposentadoria.
No âmbito rural as propostas também são graves. As mulheres do campo têm uma vida reconhecidamente pesada, cuidando da casa, dos filhos e da lavoura. Pela reforma demorarão mais cinco anos para se aposentarem, isso se conseguirem, pois com o fim do princípio da universalidade na cobertura, estas, que exercem um trabalho essencial, mas que injustamente não é valorizado aos olhos do mercado, poderão não ter condições de realizar as contribuições previdenciárias e deixarão de receber um benefício que em muitos casos seria o único que teriam acesso. Essas e outras medidas, conjugadas à Reforma Trabalhista e ao congelamento de investimentos públicos por 20 anos, significam um retrocesso sem precedentes para o Brasil. Não podemos aceitar nenhum direito a menos. Juntas somos mais fortes.
*Maria do Rosário, deputada federal (PT-RS)