Seminário LGBT: Mídia e setores fundamentalistas alimentam crimes de ódio no País, afirmam palestrantes

Parlamentares e representantes de comunidades LGBT e de religiões de matriz africana afirmaram nesta quarta-feira (18) que setores da mídia e segmentos fundamentalistas da sociedade brasileira são os maiores responsáveis pelo crescimento do ódio nas ruas e na internet, principalmente nas redes sociais. A denúncia foi feita durante o debate no formato de talk show: “O próximo pode ser você…a ser difamado! ”, que teve como subtemas a pornografia de vingança, o bullying e os discursos e/ou crimes de ódio. Mediado pela jornalista Cynara Menezes, o evento fez parte do 13º Seminário LGBT do Congresso Nacional.

Como exemplo de como o poder da mídia pode contribuir para a disseminação do ódio e do preconceito, foi citado o caso recente do jornalista e apresentador de programa esportivo da TV, Milton Neves, que criticou de forma pejorativa a eliminação da seleção brasileira feminina de futebol nas Olímpiadas do Rio. Em uma postagem nas redes sociais, Milton Neves afirmou que “não gosta de futebol de muié”, e que a modalidade deveria ser substituída na competição pelo futsal masculino.

Para a deputada Maria do Rosário (PT-RS), a declaração infeliz apenas reforça o preconceito e estimula declarações de ódio contra as mulheres.

“É uma opinião boba, porque equivale a dizer que mulher não pode jogar futebol porque é coisa de menino. Cá pra nós, Milton Neves, se você não gosta de futebol feminino, não assista!”, disse.

Já a presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Keila Simpson, destacou que alguns setores da mídia- principalmente ligados a segmentos evangélicos fundamentalistas- também contribuem para disseminar os crimes de ódio nas ruas e nas redes sociais.

“Infelizmente vivemos na boca de certos evangélicos, que se preocupam mais com o que fazemos do que com as suas próprias vidas. Enquanto isso, somos assassinadas todos os dias nas ruas deste País, vítimas desse tipo de discurso de ódio em canais de TV que promovem a violência”, afirmou.

Ainda sobre a promoção do ódio na sociedade brasileira, Keila Simpson disse que não se pode compartilhar ataques recebidos pela internet, nem com o intuito de se defender. Segundo ela, “as agressões devem ser revidadas na justiça, por meio de processos criminais”.

“Imaginem se a agressão feita por um deputado contra a Maria do Rosário fosse entendida por todas as mulheres como uma agressão a elas próprias. Com certeza ele não faria mais aquilo, assim como certos pastores que nos atacam na TV parariam de incitar o crime de ódio se fossem processados”, defendeu Keila Simpson.

Nesse caso, a ativista se referiu à ofensa proferida em 2014 pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) que disse à deputada petista: “Não lhe estupro porque você não merece”. Por conta dessa atitude, o deputado do partido Social Cristão (PSC) se tornou réu no STF, por incitação ao crime de estupro e por injúria.

Internet- Sobre os ataques de ódio na internet, a consultora do quadro Bishow- do Programa Amor & Sexo (TV Globo), a drag queen Lorelay Fox, destacou que o anonimato serve como incentivo à propagação dos ataques.

“Muitos buscam fama com o discurso do ódio. O ataque muitas vezes é feito em bando, combinado via internet. Escolhem um alvo específico, pois sabem que isso atrai mídia para eles”, explicou.

Solução- Após relatar casos de agressões a terreiros e integrantes de religiões de matriz africana, a representante do segmento no Conselho Nacional de Promoção do Respeito e Valorização da Diversidade Religiosa da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Mãe Nangetu, destacou que falta na sociedade brasileira mais amor e respeito às diferenças.

“Todos estão atrás de pokemon, mas não se olha mais nos olhos do outro. Precisamos nos reavaliar como seres humanos”, declarou.

Ela disse ainda que o combate mais efetivo à onda de ódio, é a conscientização dos pais ou responsáveis pelas crianças em todo o Brasil.

“Discriminação e intolerância começam dentro de casa. Por isso os pais precisam ensinar as crianças o respeito aos outros”, finalizou.

Também como forma de punir e reduzir os crimes de ódio, vários participantes do talk show ressaltaram a importância do projeto de lei (PL 7582/14), de autoria da deputada Maria do Rosário. A proposta define os crimes de ódio e intolerância e cria mecanismos para coibi-los.

Héber Carvalho

Publicado em PT na Câmara

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