A bandeja de Jucá

Uma parte do país se depara espantado com a escuta que flagra o Ministro do Planejamento do Governo ilegítimo de Temer, Romero Jucá, propondo um pacto para deter a operação Lava Jato. A outra parte diz: bem que eu avisei. E diante dos diálogos que revelam que o impeachment realmente foi um golpe sórdido, ambas as partes quem sabe possam unir-se pela democracia e pela verdade, mandando Temer de volta ao seu lugar secundário na política, e restituindo o governo à Presidenta que foi eleita em 2014. Isso seria o razoável ao compreendermos os dois aspectos centrais do golpe desenhado em letras garrafais na conversa de Jucá com seu amigo Machado. Ainda assim, somos conscientes, que quando se trata do poder, a prevalência do razoável, e até mesmo da legalidade, nos exige muita luta, como é o caso agora.

O primeiro aspecto é o da mudança dos pressupostos econômicos e do papel do Estado. Está a olhos vistos os interesses por uma reforma da Previdência que mexe em direitos adquiridos e nas regras para os que já estão no sistema. Fica cada vez mais transparente a opção por uma reforma trabalhista que suprime direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Privatizações, concessões, arrocho em políticas sociais.

Esta foi a finalidade do Golpe. Beneficiar uma elite econômica, os interesses do capital. A sociedade irá sofrer. Se alguém tem dúvidas sobre isso, sugiro olhar o nosso país vizinho, a Argentina, onde o conservador Maurício Macri, que tem um perfil político idêntico a de Aécio Neves, venceu as eleições em 2015 (sim, lá disputaram no voto e o resultado das urnas foi respeitado). Segundo o Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina, apenas nos primeiros três meses deste ano, há mais 1,4 milhão de novos pobres em solo de nossos irmãos (quase 4% da população total). É estarrecedor que em apenas um trimestre isso tenha acontecido e mais assustador ainda é que José Serra, Ministro ilegítimo das Relações Exteriores, está lá hoje (23/05) para estreitar relações políticas e comerciais.

O segundo aspecto é explícito na conversa. Tiraram Dilma para tentar estancar a Lava Jato. A corrupção era apenas a justificativa visível, pontual para o golpe. Romperam com a estabilidade do país e com a normalidade democrática apenas para atingir seus interesses. Usaram parte da população como massa de manobra – afinal, era um movimento “cívico”, não é mesmo? Pois bem, cadê o civismo agora? Onde estão os interesses do Brasil, da cidadania?

A figura de linguagem usada por Romero Jucá é muito ilustrativa do Golpe que foi o Impeachment: referindo-se ao PSDB, a Aécio Neves, a José Serra, a Aloysio Nunes e a Tasso Jereissati, fala que é preciso estancar as investigações porque estaria “todo mundo na bandeja para ser comido”, numa menção à classe política. Engana-se, Romero Jucá. A presidenta Dilma não está na sua bandeja!

Só resta às instituições restituírem o Governo à Presidenta Dilma, que foi eleita para governar até 2018. Com o sinal de Jucá, Cabe à Temer levantar da cadeira que de forma ilegítima ocupa. E se ele não se convencer disto, cabe ao povo brasileiro mobilizado fazer com que se convença.

Publicado em Brasil 247

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