Maria do Rosário, Maria do Rosário, Maria do Rosário

O Potter vez em quando diz uma frase, depois de um suspiro:

“Não é fácil ser Maria do Rosário”.

Imagino que não seja mesmo.

Suponho até que, no momento em que você leu “Maria do Rosário”, tenha ficado alerta como um escoteiro. Basta a citação do nome dela para despertar nas pessoas algum sentimento. Você quer fazer polêmica? Escreva: Maria do Rosário, Maria do Rosário, Maria do Rosário. Não precisa mais.

Veja o que aconteceu dias atrás. Alguém inventou uma postagem da Maria do Rosário no Facebook sobre aquele policial que é motorista do Uber, reagiu a um assalto e matou os três ladrões. No post, a falsa Maria do Rosário censurava o policial, comentando: “Agora são três famílias a chorar, quando poderia ser apenas uma”.

Ao receber esse post, um deputado de Minas foi ao plenário e chamou Maria do Rosário de vaca. Desde então, Maria do Rosário vem se explicando e se debatendo por algo que não disse.

Não é fácil ser Maria do Rosário.

Conheço-a, embora não a tenha encontrado muitas vezes. É uma pessoa cordial e uma política bem-intencionada. No entanto, foi transformada em um símbolo dos exageros do politicamente correto e por isso é vilipendiada e insultada.

Não pretendo analisar a atuação de Maria do Rosário, nem suas ideias, nem o que representa ou deixa de representar. Pretendo analisar os ataques que sofre. Não para defendê-la, que ela decerto dispensaria minha defesa, mas para tentar explicar o mundo de hoje, onde vicejam um Trump, um Crivella, um Doria, o mundo do Brexit e do acordo desfeito com as Farc na Colômbia, entre outras rápidas mudanças que aí vêm.

Pois bem. Você pode não gostar de Maria do Rosário. Sem problemas. Mas haverá de concordar que ela tem sido agredida de forma traiçoeira e maldosa. Alguém há de argumentar que a esquerda sempre foi agressiva e, às vezes, também traiçoeira e maldosa. É verdade. E está aí, precisamente, o ponto.

Trata-se de uma questão de física. A Terceira Lei de Newton diz que para toda ação há sempre uma reação oposta em igual intensidade. Logo, era de se esperar que o discurso muitas vezes insano do politicamente correto gerasse uma reação igualmente insana.

De fato, gerou. Só que isso acaba igualando os dois extremos.

Pegue alguém que foi dissolvido moralmente pelos ataques de certos petistas. Marina Silva. Também ela é uma pessoa cordial e uma política bem-intencionada. Foi indecente o que fizeram com Marina Silva na campanha de 2014. Sem dúvida. E, agora, os que condenaram os ataques a Marina Silva fazem o mesmo com Maria do Rosário. Esquerdistas aloprados e direitistas aloprados são, todos, aloprados.

Se a reação aos exageros do politicamente correto é ser exageradamente incorreto, como Trump ou como os agressores de Maria do Rosário, não há avanço algum. É ficar no mesmo lugar. E, às vezes, andar para trás.

Por David Coimbra

Publicado em Zero Hora

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